Perichoresis
Perichoresis (ou Interpenetração) é um termo da teologia cristã encontrado na literatura patrística e novamente em uso entre expoentes como C. Baxter Kruger, Jurgen Moltmann, Miroslav Volf e John Zizioulas, entre outros. O termo aparece pela primeira vez em Gregório de Nazianzo, mas foi explorado de forma mais ampla na obra de João Damasceno. Ele se refere à mútua interpenetração e coabitação das três pessoas da Trindade.
Utilização
A relação entre as pessoas na Trindade é intensificada pela relação de perichoresis. Esta coabitação expressa e realiza a irmandade entre o Pai e o Filho, uma forma de intimidade. Jesus compara a unicidade desta coabitação à unicidade da irmandade de sua igreja: «a fim de que todos sejam um, e que, como tu, Pai, és em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste.» (João 17:21).
A tradição teológica tem interpretado esta coabitação como irmandade. João Damasceno, que teve influência no desenvolvimento da doutrina da perichoresis, a descreveu como "interpenetrados". É tal a irmandade na Divindade que o Pai e o Filho não apenas envolvem um ao outro, mas eles também entram um no outro, permeando-se entre si, e habitam um no outro. Um no ser, eles também são sempre um na intimidade de sua amizade.
A devoção deles um ao outro no Espírito Santo pelo Pai e pelo Filho tem conteúdo. Não apenas a procedência do Espírito a partir do Pai para o Filho e do Filho para o Pai expressa seu amor mútuo, pois eles respiram um pelo outro e também se dão um para o outro. Na processão do Espírito do Pai, Ele se dá ao Filho; na processão do Espírito do Filho para o Pai, o Filho se dá para o Pai, pois a processão, como a geração do Filho, é a ida do ser do Pai para o Filho e vice-versa, na forma do Espírito Santo.
Perichoresis x Co-inerência
Perichoresis não deve ser confundida com co-inerência. O autor Charles Williams descreve a perichoresis das pessoas da Trindade se utilizando da palavra "co-inerência", uma palavra que tradicionalmente tem sido usada para descrever a coabitação plena das naturezas humana e divina na pessoas de Jesus Cristo. Mesmo que Willians se utilize de "co-inerência" de forma que ela possa ser interpretada como sinônima de perichoresis, elas não são intercambiáveis. A doutrina ecumênica cristã da encarnação enfatiza que as duas naturezas de Jesus são "co-inerentes" a uma pessoa (hipóstase). Jesus, portanto, é completamente divino e completamente humano e nunca tem apenas uma natureza. Sendo assim, duas naturezas num único ser (a chamada união hipostática). Por outro lado, o Credo de Niceia estabelece que Deus é uma ousia (essência/natureza) em três hipóstases (a chamada consubstancialidade trinitária). A nuance pode parecer sutil, mas tem importantes consequências sobre a doutrina da Trindade, que foi calorosamente debatida durante os primeiros anos da Igreja. Enquanto o conceito de "perichoresis" descreve a mútua interpenetração das hipóstases (pessoas) da Trindade que são individualmente e juntas de uma mesma ousia (essência), o conceito de "co-inerência" foca em duas ousias (naturezas/essências) estando presentes em uma mesma hipóstase (pessoa) - no caso, a de Jesus. Descrever a perichoresis trinitária em termos de co-inerência carrega o risco de implicar que as pessoas da Trindade são de ousias diferentes quando, na realidade, o Credo de Niceia explicitamente nega essa possibilidade.
Etimologia
Perichoresis vem do grego peri- ("à volta") e chorein ("conter").
Referências
Bibliografia
- DURAND, Emmanuel. La périchorèse des personnes divines : immanence mutuelle – réciprocité et communion, Paris: Cerf (Cogitation Fidei; 243), 2005, p. 409. (em inglês)
- Lane G. Tipton, "The Function of Perichoresis and the Divine Incomprehensibility," Westminster Theological Journal, Fall 2002. (em inglês)
- David J. Engelsma, Trinity and Covenant, Reformed Free Publishing Association, 2006. (em inglês)
Este artigo incorpora conteúdo da edição de 1728 da Cyclopaedia, uma publicação agora em domínio público.
Ligações externas
- «Atelier d'iconographie : Icons workshop in Montreal (Quebec, Canada)» (em francês). Institut Périchorèse. Consultado em 23 de dezembro de 2011